Anielle Franco na NOVA School of Law para encontro com o Observatório do Racismo e Xenofobia

No quadro da visita de Estado do Presidente brasileiro Lula da Silva a Portugal, a ministra brasileira da Igualdade Racial, Anielle Franco, esteve na passada segunda-feira na NOVA School of Law, num encontro com o recém-criado Observatório do Racismo e Xenofobia, representado pela Professora Helena Pereira de Melo. A representação da Universidade NOVA de Lisboa e da NOVA School of Law foi assegurada pela Diretora, Professora Margarida Lima Rego.

Neste encontro foi acordada uma parceria entre o governo brasileiro e o Observatório, que se comprometeram a trabalhar com maior cooperação no combate aos casos de xenofobia e racismo, falando-se da necessidade da produção de dados sobre a população negra em Portugal, englobando migrantes brasileiros e africanos, assim como a inclusão da contabilidade da raça e etnia nos censos, cumprindo as boas práticas internacionais e fomentando políticas de integração.

Foi ainda acordado o desenvolvimento de um protocolo de cooperação com universidades brasileiras e portuguesas no âmbito do Observatório, para que seja construído um observatório semelhante no Brasil.

Prémio Marielle Franco

No âmbito desta cooperação institucional, foi divulgada a criação de um prémio com o nome da ativista Marielle Franco, irmã da Ministra, que irá premiar investigadores que tratem do racismo e xenofobia.

Em entrevista à Lusa após a reunião, Anielle Franco mostrou-se muito “honrada com o prémio” e destacou que a sua irmã, de quem se assume “herdeira espiritual“, é um símbolo “da falta de acesso das mulheres negras a diversos setores” e também de “uma violência política extrema que cresce” em todo o mundo, no quadro da polarização e dos extremismos existentes, afirmando que nunca se esquece dela nas suas posições políticas.

Sobre Anielle Franco

A ministra, que tomou posse no início do ano, é irmã de Marielle Franco, vereadora negra do Rio de Janeiro que lutou pela justiça racial e foi assassinada em 2018, depois de participar de um evento político com mulheres no centro do Rio de Janeiro, tornando-se um símbolo das vítimas da violência política no Brasil.

Após a morte da irmã, e ainda antes de assumir um cargo no Governo, Anielle Franco criou o Instituto Marielle Franco, organização sem fins lucrativos que atua em defesa dos direitos de meninas e mulheres negras, periféricas e pessoas LGBTQIA+, dedicando-se em tempo integral ao ativismo político pelas causas da população negra e LGBTQIA.

Nascida e criada na favela da Maré, no Rio de Janeiro, mãe de duas meninas, filha de uma família de mulheres negras nordestinas, tornou-se voz poderosa na luta pela justiça, sendo a primeira e única brasileira indicada como «Mulher do Ano» entre as doze escolhidas pela revista norte-americana Time em 2023, na lista das «líderes extraordinárias que estão a trabalhar para um mundo mais igualitário».

A sua trágica história familiar, personalidade calorosa e uso hábil dos media transformaram a outrora reservada Franco numa líder improvável no movimento pelos direitos dos negros no Brasil”, lê-se numa parte do perfil que a revista Time publicou sobre a ministra.

Anielle Franco é licenciada em Inglês e Literaturas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e em Jornalismo pela Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, sendo mestre em Relações Étnicos-Raciais. É também fellow da Ford Foundation, em Nova Iorque, entidade criada para financiar programas de promoção da democracia, redução do racismo e da pobreza.